Claro que nunca me destaquei como pitonisa e nem ao menos tive essa inútil intenção. Mas ainda posso sonhar, porque o dia em que me subtrairem os sonhos, restará de mim apenas uma carcaça ambulante, completamente destituída de vontade própria, uma vez que aquilo que me move a pensar é justamente o pedaço de sonho que a cada dia tranformo em tijolo novo na construção da minha realidade.
O sonhar me produz algumas certezas, pois os meus voos são realizados com os pés arraigados no chão e então é justamente isso que me permite constatar que o Verdão voltará a seus melhores dias já a partir desta Copa do Brasil. Tudo conspira para isso. Inclusive o descrédito que a imprensa esportiva em geral nos aponta, capitaneada aí até por alguns cronistas comprovadamente palmeirenses, e no entanto com medo de sair da casca, qual jabuti em noite de trovoada.
Um sonho bem estruturado se firma pela experiência. Anos de janela, no avião que é a vida nestes campos verdejantes de nosso Palestra, me conduzem a transliterar a certeza de que estão próximos esses dias de retorno ao estrelato. Primeiro, pelo excesso de humilhação, grande parte por nossa própria e máxima culpa, que nos fizeram passar em função dos péssimos resultados que obtivemos em algumas partidas. Segundo, por outros resultados que vieram em paralelo e que foram marcantes, como as vitórias contra São Paulo e Santos.
Percebam que são duas situações antagônicas, dificeis de explicar racionalmente, e que mostram uma única certeza: quando jogamos com os grandes, o nosso futebol também é grande. E daí sobrevém a linha mestra que me dá a condição de sonhar com segurança. Se ganhamos dos grandes podemos ganhar de qualquer um, e basta para isso apenas tranquilidade psicológica, aliada a um esquema tático destituído de qualquer tipo de covardia.
E não vou falar em novos reforços, uma vez que para esta competição em que estamos agora já não podemos contar com eles no número e na qualidade que necessitamos, mas com o time que está aí é possível engrenar uma trajetória em parábola-sobre, ou seja, dar a tradicional volta por cima. Tenho plena convicção disso.
E basta apenas não jogar com medo. Basta apenas partir em busca do gol. Todas as vezes que fizemos isso, conseguimos êxito. E nas oportunidades em que dominamos o jogo em forma de toques laterais, fomos derrotados no descuido fortuito. Mas creio piamente que essa coragem está sendo retomada pela ação do nosso treinador, que já deve ter percebido o estado coletivo de depressão do time.
E ainda mais, em tempo de Páscoa, a ordem é trabalhar ligeiro porque o anjo sacrificador aí está para ceifar a vida de todos os primogênitos. E isso é uma metáfora que pode e de certa forma será aplicada em alguns dos jogadores que compõem o nosso elenco, e que no mínimo deverão amargar um bocado de banco por conta desse sacrifício pascal, quando não de outro tipo de castigo ainda mais radical.
Assim, das cinzas, podemos e vamos ressurgir altaneiros, para vencer no campo de jogo aqueles que tentam nos derrotar fora das quatro linhas. E brilhar no ponto mais alto do pódio, porque é esse o anseio de nossa torcida, que não é a mais numerosa, mas com certeza é a mais bonita, a mais vistosa, a que mais mostra amor pelo seu time, com raça, cantando e vibrando sempre, e que portanto merece esse grande "dá-lhe, porco" de virada.
Sonho? Que seria dele não fosse a esperança de torná-lo real?