Um blog para exaltar o meu Verdão. E não só exaltar, mas também aliar poesia e bola, bola e poesia. E só. Não só. Cornetar também, quando necessário.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Um gol além da letra...

Letras formam palavras. Palavras se dispõem em frases e orações e dão realidade ao sentido que as circunstâncias determinam. E sobretudo, as palavras também dançam na magia da imaginação e se transformam em instrumentos da arte para divinizar o belo.
Dessa forma, salvo exceções que a fonética determina, a letra é a menor parte da palavra e portanto ela é o mínimo que se pode tirar de uma circunstância transformada em arte. Porém, sem a letra, não há o talento de que se necessita para forjar qualquer circunstância, uma vez que desta se ausenta o elemento natural da arte escrita e falada que é a palavra.
Assim, quando se fala em gol de letra, claro que se refere a um gol marcado com maestria, com arte, com beleza, e o autor de algo assim pode facilmente ser guindado à condição de frequentador do olimpo futebolístico. E nessa categoria, está tanto o gol quanto seu próprio autor.
Robinho, num momento de inspiração artística, rasga o largo abismo que separa o mero do imortal e submete a seus pés o mágico Ceni, no mesmo jogo, já cabisbaixo e humilhado pela bela frase engendrada por Neymar na cobrança de uma penalidade maior.
De qualquer forma, o Santos, num só jogo, juntou a ação de Robinho à de Neymar e formaram uma palavra. Ações frutos da individualidade, lindas como um sol nascendo metaforicamente no coração de uma noiva feliz, mas com a ausência da pluralidade que só o coletivo pode oferecer.
E no coletivo, a força do gênio num mesmo lance acoplada à desenvoltura de outro gênio. Com o pé sob a bola, esta se levanta como que soprada por Diego, desliza por sobre as cabeças de seus adversários e pousa calmamente ao lado dos pés de Xavier. E mais uma vez o sopro divino, manso, deslizante, sinuoso, e a bola novamente se levanta para cair prostrada no cantinho das traves, depois de balançar irremediávelmente as redes do adversário de Bragança.
Isso sim é um gol que ultrapassa as barreiras do tangível e se veste com o manto dos deuses do futebol. Um gol plural, um gol coletivo, um gol de todos, um gol muito além da letra, pois mesmo em face da beleza de outros gols em outras partidas realizadas, este é um gol que faz suspirar aqueles que amam a singela arte do complexo transformado em simplicidade.
E afinal, um gol muito além da letra, porque não há nada mais lindo que um gol do time da gente.
 
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